domingo, 16 de maio de 2010

O Pior Filme do Mundo e os Melhores Momentos em Vida


Desde que vi o filme "Ed Wood"(1994), uma das maiores experiências de cinema biográfico que já entrei em contato, realizado pelo até então insdiscutivelmente talentoso Tim Burton, que nutro um desejo, quase sonho, de ver as obras regidas pelo Ed Wood, alcunhado de "o pior diretor do mundo" e radiografado no filme do Burton pelo multifacetado e propiciador de uma das cenas mais constrangedoras da história do cinema em um filme comercial que estreou no mês passado nos cinemas brasileiros, Johnny Depp. A obra do Tim Burton baseia-se principalmente na construção de duas obras por Ed Wood, "Glen ou Glenda"(1953), onde Ed Wood auto biografa seu travestismo não homossexual, apenas fetichístico pelo uso de acessórios femininos, filme que já havia visto em uma sessão semanal antes de conhecer a história do diretor e por isso não apreciado e/ou compreendido como deveria, e "Plano 9 do Espaço Sideral"(1956) considerado o pior filme do pior diretor do planeta, consequentemente o pior filme de todos os tempos, sendo este confessadamente o filme que mais desejava ver até este momento.

Na última Quinta-feira fui contemplado com a oportunidade de ver o filme do Ed Wood, coisa que só o fiz nesta madrugada pois depois de pensar em vê-lo pela primeira vez coletivamente com amigos, desisti e decidi conferí-lo sozinho prevendo uma discussão indesejada sobre a qualidade atrativa do filme, pois já imaginava que seus trunfos eram bem outros, e assim o fiz. "Plano 9 do Espaço Sideral", a obra preferida de Ed Wood, considerada por ele e só por ele o Cidadão Kane dos seus filmes, conta com a história de invasão do planeta Terra por alienígenas que ressuscitam os mortos para combaterem os humanos antes que estes descubram a bomba de "solobonite" capaz de explodir os raios de sol que uma vez utilizada destruiria todo o sistema solar, para além do mirabolante roteiro, o filme conta com montagens de cenas de outros filmes e planos sequenciais sem coerência que precisam ser explicados pelo diretor a todo momento, o ator principal do filme, Béla Lugosi, morreu antes das gravações e um ator cobrindo o rosto se passa pelo astro do terror durante toda a película, Béla só aparece em uma gravação que nada tinha a ver com o filme mas que é magistralmente e incoerentemente colada pelo apaixonante e apaixonado Ed Wood, o filme exala tanta paixão(que talvez só se perceba pós conhecimento prévio do Ed Wood) em cada uma de suas cenas que nos faz esquecer seu conteúdo, atuações e efeitos discutíveis. Por fim, seria injusto ou forçado estabelecer qualquer avaliação qualitativa sobre o filme, mas sem medo algum de parecer fetichista mítico, digo: "Plano 9 do Espaço Sideral" é fundamental e conhecer Ed Wood é obrigatório para qualquer um que nutra qualquer sentimento pelo cinema!

sábado, 27 de março de 2010

O Problema está Comigo!?


Durante os três meses que tive fora de Aracaju, uma "banda" cearense sob a batuta do vocalista e guitarrista Fernando Catatau parece ter vindo consquistando boa parte dos meus colegas sergipanos, mesmo já tendo pre-visualizado algumas críticas positivas a respeito do álbum "Uhuu" de 2009, não pude deixar de surpreender-me com a quantidade de elogios devotados ao "Cidadão Instigado" nesse pequeno espaço de tempo que regressei a capital de Sergipe. Conheci o álbum "Uhuu" há cerca de quatro meses, e apesar de ter de reconhecer a qualidade experimentativa e referencial do Fernando Catatau e ter confessadamente simpatizado com a graciosa faixa "Dói", a mistura de música brega brasileira com rock progressivo, tom melancólico e outras tentativas do "Cidadão Instigado" logo me pareceu boas idéias reunidas em um álbum não tão bom assim, principalmente pela voz maçante do Catatau tive sérias dificuldades para chegar no final do álbum com alguma atenção, "reouço" o álbum quatro meses e milhares de elogios depois e infelizmente nada muda, "Dói" continua graciosa, a voz do Catatau continua importunante e o álbum dificultosamente chega ao fim, enquanto isso os críticos e os meus colegas sergipanos se derretem, "Uhuu".

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Viciado em um "Velho Bêbado"


Desde algum tempo o livro que mais me orgulhava intimamente de ter lido era o romance "Factótum" de Charles Bukowski, o romance conta a história de Henri Chinaski, alterego do escritor, em uma viagem pelos Estados Unidos regado a romances baratos, tragos de whisky e bicos empregatícios, apesar de o enredo não ser nenhuma novidade se tratando de contra-cultura americana, a forma que o Bukowski me contava aquela história me trouxeram os maiores gozos literários que até então já tivera em vida, aquele autor frio, sujo e principalmente bêbado, me cativara de uma forma impressionante que durante alguns anos minha quase única indicação de romance marginal era devotada ao "Factótum".
Daí em diante um dos objetivos que tinha em vida era sentir novamente essa sensação, procurei outras obras do gênero, em vão, nada mais que simples e passageiras ereções, até que me foi prometido há pouco tempo um outro livro do velho Bukowski, mas dias depois meu presenteador talvez se encantou com a obra e desistiu de me presentear, não ia ser agora.
Uma das grandes incapacidades declaradas que sempre tive, foi que jamais conseguiria ler um livro por uma tela de computador, apesar de jamais ter tentado, aquilo me parecia tão concreto que jamais pensei em discutir comigo mesmo sobre o assunto. Porém nesses últimos tempos algo me puxava a tentar baixar um livro do Bukowski, eu não podia mais passar sem descobrir se aquela paixão tinha sido momentÂnea e casual ou o Bukowski era capaz de me proporcionar aquilo novamente, escolhi o "Misto Quente" e decidi tentar, a rapidez e a forma como aquela obra foi consumida frente a tela do computador me fez ter certeza que surpreendentemente eu era capaz, e enquanto ao livro... era disso que eu estava falando, o Bukowski continuava lá, intacto, frio, sujo e bÊbado como eu o deixara há anos atrás.
Além de tudo isso, agora ainda me fazia descobrir uma potencialidade, eu sou capaz de ler livros por uma tela de computador. Descubro também que quase todas as obras do Bukowski estão facilmente disponíveis para serem baixadas, e o pior, eu sei que eu não vou conseguir parar.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Sim, e Agora?


Não que eu tenha qualquer esperança reanimadora após o reinício do calendário anual gregoriano ,mas dentre todas as datas potencialmente litúrgicas deste, o denominado "Ano Novo" talvez seja a data que eu nunca realmente tive aversão total às suas comemorações, mesmo tendo por vezes solicitado junto a minha mãe uma vaga no banheiro para fugir dos vizinhos que nesta data tornavam-se assaz amigáveis e sempre tinha um abraço desejativo para o ano que se iniciava e pelo sempre desprezo infantil à "queima de fogos", jamais conseguia compreender a que servia a "queima" de tanto dinheiro a um serviço estético tão passageiro.
Porém inicialmente por esta data ser a única a me possibilitar a virada da noite sem qualquer restrições horárias, mesmo que por vezes eu mesmo não aguentasse e curtisse o amanhecer do primeiro dia do ano pela micro-janelinha que ficava na cama de cima do beliche sempre ocupada pelo meu irmão mais velho, acabei aceitando as aversões e tendo sempre este dia como um "grande" dentre os 365 ou por vezes 366 que completava sempre esta "difícil" jornada. Outro fato também que talvez me faça lembrar o "Ano Novo" com certa pujança é que a vizinha da minha primeira casa fazia aniversário (liturgia que jamais criei o mesmo apreço) no dia 31 de Dezembro, as suas festas se estendiam facilmente até o dia primeiro, numa dessas festas que sempre arrumava um jeito de adentrar foi a primeira vez que ingerí bebida alcoólica e percebi os seus efeitos pra valer, para além de apreciar os efeitos desta bebida que me fez dormir na rua pela primeira vez, o status que isso me causou com 8 anos de idade é mais um dos motivos que sempre me fez lembrar desta data com carinho.
Mais tarde o último dia do ano devido a rapidez com que ele se repetia, foi talvez a primeira potencialidade que me fez pensar reflexivamente na morte, o que eu também achava bom, meus primeiros pensamentos questionadores e mais complexos se derivavam na virada do ano. Agora a pouco mais um ano se passou de acordo com o calendário Ocidental, eu estive próximo a Barra, bairro de Salvador, onde uma queima de fogos como de costume se instaurou por vários minutos, e como também de costume, mas agora por outros motivos, isto também voltou a me incomodar, este é o vigésimo "reveillon" que passo na Terra, talvez o décimo sexto que lembro-me com detalhe, e curiosamente apesar de já ter percorrido deveras diversos locais, jamais estive fora da Bahia nesta ocasião, vai ver é isso...

sábado, 21 de novembro de 2009

"A música do Mundo Livre é farta..."


Verdade que eu tinha ouvido pouca coisa do Mundo Livre S/A comparado com o que já havia consumido da outra banda que comanda o início do belo movimento mangue beat pernambucano, a Nação Zumbi, porém conhecia um pouco da proposta musical do Mundo Livre, motivo suficiente da surpresa ao ouvir o álbum "O Outro Mundo de Manuela Rosário" e descobrir que aquele belo trabalho também era alcunhado pelo Fred Zero Quatro e sua turma.
"O Outro Mundo de Manuela Rosário" já me encantara quando ouvi a primeira vez pelo sincretismo musical, comum do Mundo Livre, pela sua beleza transcendental intimamente ligada pelo vocal "JorgeBeniano" assumido pelo Fred Zero Quatro e pricipalmente pela frase final da canção "Azia Amazônica" que erroneamente abria o "cd" devido ao erro no "download", mas que me fez parar em frente ao som e escutar com atenção tudo que era pronunciado pela voz chorosa do Fred Zero Quatro e por diversas outras que vão aparecendo em forma de entrevistas mescladas com a inteligência musical do Mundo Livre. Logo após, descobri que o álbum é um projeto-denúncia do Fred Zero Quatro contra os latifundiários da região de Pesqueira em Pernambuco após o assassinato do cacique Xucuru, mas em nenhum momento o álbum se perde no monotematismo pois inteligentemente é conduzido pelas diversas facetas da opressão, analises sistêmicas impecáveis, a história da Manuela Rosário é linda, e, e, é isso, belo, belo!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

"Um dos efeitos do medo é perturbar os sentidos e fazer que as coisas não pareçam o que são", será?


Enquanto tentava desesperadamente por quase duas horas seguidas dormir nesta madrugada, irritava-me deveras com os pensamentos que sempre resolvem aparecer justamente na hora em que tento dormir, milhares de coisas rondam a minha cabeça enquanto eu tento esquecer de tudo e concentrar-me nos meus objetivos soporíferos, em vão.
As primeiras insônias das quais recordo foram causadas pelo filme "A Noite dos Mortos Vivos" geralmente transmitido pela Rede Bandeirantes, lembro-me que as imagens daqueles zumbis sempre voltavam na escuridão no meu quarto, e de medo, procurava sempre algum aconchego familiar pra me acompanhar nessas noites, acabei assistindo tantas vezes esse filme que era quase impossível conciliar escuridão e solidão com noites de sono, sempre precisava de pessoas ao meu lado para dormir, felizmente meu medo de escuro foi se acabando paralelamente com a certeza de que pessoas não eram a solução, acreditei que era o fim, não era.
Passado a época do medo, acabei me tornando um pouco mais tarde um ser altamente ansioso, e qualquer expectativa por menor que fosse me fazia ter insônias arquitetando involutariamente milhares de planos pro dia que viria, logo depois acabei descobrindo também que expectativa não era a solução, pelo contrário!
Seria o fim?
Não. Nesta madrugada me peguei novamente tendo insônia por medo, por medos, excêntricos e estranhos medos, mas quem dera fosse daqueles ocasionados pelo "A Noite dos Mortos Vivos", eu sei que estes não vão passar quando amanhecer.


"Xii", está amanhecendo!

Rafael Maurício, 5:26 a.m

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

O que o Woody diria agora?


Dentro de uma madrugada onde discuti conceitos de liberdade, ouvi Nina Simone, duas pessoas me recomendaram a então desconhecida musicalmente por mim, Ella Fitzgerald, fui convocado a descobrir as peripécias literárias de dois amigos, e ainda tive tempo para (re)perceber que a subjetividade tem lá o seu preço, por causa de uma citação em uma conversa dessas que se tem na internet, termino a minha madrugada com uma imensa vontade de ouvir o que o velho Woody teria a me dizer nesse começo de 10 de Setembro, percebo também que mesmo o Woody Allen naturalmente figurar em meu Top 3, só tive o prazer de ver os fabulosos "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" e "Manhattan", "Poderosa Afrodite", e o intenso e mediano(para mim) "Vicky Cristina Barcelona", o humor mais fabuloso da história do cinema, só figurou na minha vida em quatro oportunidades, e começo a descobrir musicalmente a Ella Fitzgerald, obrigado pela dupla indicação, ela deve merecer.